sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O trabalho e o enfoque organizacional




Fonte: Parte da monografia da especialização em Saúde do Trabalhador de Ana Cristina Jacques:Interferências da Saúde Mental na Produtividade.


O trabalho e o enfoque organizacional

Países desenvolvidos se esforçam cada vez mais à profilaxia para evitar doenças, integrando o bem-estar e a produtividade. No ano de 2008 o Brasil indiretamente gastou R$ 42 bilhões com assistência médica e o afastamento de trabalhadores em decorrência de problemas de saúde, a Previdência desembolsou cerca de 10,7 bilhões com gastos acidentários e aposentadorias especiais, o equivale a 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) (http://www.colunadonene.com.br/noticias.php?pag_ini=2360,07.07.2009). Uma empresa que investe em Programas de Qualidade de vida PV, reduz o absenteísmo médico e as perdas com produtividade, gerando lucro.. Este programa visa chamar a atenção e estimular os trabalhadores a adotarem hábitos saudáveis e a valorizar a prevenção ás doenças
( http://www.tede.ufsc.br/teses/PEPS5204-T.pdf 20.08.2009).

A desmotivação também pode ocorrer em nível de chefia e seus efeitos são mais “danosos”, este profissional tem que liderar uma equipe, sendo assim é necessário que identifique e analise o que o está levando a isso. Segundo Wilson Mileris, especializado em motivação e comportamento humano, que atua há 18 anos como conferencista em todo o Brasil se o problema é salário baixo, indica que o mesmo está acomodado ou inseguro. Acomodação não é problema, mas a contradição existe, pois insegurança e gerência são fatores que não combinam. Se os objetivos não forem iguais aos da empresa, não deve se comportar de modo passivo e sim informar à Direção o que pensa ser necessário. Se a empresa não possui objetivos claros é importante torná-los públicos e usar vários canais para informá-los.

Muitos trabalhadores desempenham funções atraídos pelo salário ou pela falta de alternativas no mercado e a motivação ou o motivo da ação não está focada no que gostariam de estar desempenhando. Existem duas formas de motivação: A que vem de fora para dentro que é o mundo do desejo, o que o dinheiro compra, não importando se a função é agradável ou não e é a representação atual do mundo corporativo e a interna, a que vem de dentro para fora que e que representa o mundo da vontade, é a força que impulsiona cada colaborador à ação. Toda a ação depende de um motivo, o conjunto da personalidade deve estar afinado com o que será desenvolvido , pois de outro modo nasce a frustração.

O gestor precisa em primeiro lugar identificar qual o motivo da desmotivação, não esquecendo que o trabalhador precisa estar harmônico no âmbito vida pessoal e profissional , problemas pessoais interferem , pois geram preocupações. Há 20 anos, o sociólogo Philip Slater publicou uma crítica sobre a obsessão ocidental pela riqueza: “A idéia de que todos querem dinheiro é propaganda circulada por apegados à riqueza, a fim de sentirem-se melhor em relação ao seu apego." (1980 p. 25).

Os Drs. TIM Kasser e Richard Ryan uniram-se na pesquisa em 13 países diferentes e compararam as pessoas altamente motivadas a fazerem dinheiro e as que não são. Concluíram que quanto mais se procura a satisfação através de bens materiais menos a encontramos. Esta obsessão está relacionada à baixa auto-estima, à depressão e ao uso de drogas, quando conseguem o objetivo dura pouco tempo e é fugaz.

O estar ligado às pessoas está relacionado com o bem-estar, conforme um estudo realizado pelos conferencistas escolares Dr. Aric Rindfleisch, Frank Denton, e Dr. James Burroughs eles concluíram que as pessoas mais materialistas são as que se sentem mais infelizes com suas próprias vidas. Sugerem que a depressão acompanhada da obsessão por dinheiro reduz quando a pessoa tem um relacionamento sincero e profundo com outras pessoas. Esta pesquisa , conforme Kasser e Ryan contradiz o “sonho Americano”, o trainer em PNL Dr. L. Michael Hall explica que :” Ganhar dinheiro exclusivamente para ter mais dinheiro não enriquece nossa experiência interior de vida, nem nos dá mais qualidade de pensamento ou sentimento”.

Guzzo e Katzell (1987) fizeram um estudo com 330 comparações de pesquisa e concluiram que os incentivos financeiros não estão relacionados ao turn-over, absenteísmo e a produtividade. O trabalhador que tem prazer na função que desempenha está naturalmente determinado e auto motivado. Salário motiva, mas não mantém a qualidade e a produtividade, não há por parte do trabalhador a apreciação, o valor pelo seu trabalho o perceber se gosta ou não do que faz. O ambiente de trabalho num todo é o que o que satisfaz e motiva a desenvolver um bom trabalho.

O Consultor empresarial Frederick Herzberg mostra a solução: " Se você quiser pessoas motivadas para fazerem um bom trabalho, dê-lhes um trabalho bom para fazer”. Mostra que trabalho envolve a realização de valores que o colaborador considera importante (reconhecimento, segurança,etc). Uma pesquisa realizada pelo Families and Work Institute (1998) agupa-os em dois segmentos:

O primeiro, é o apoio do ambiente de trabalho (oportunidade igual e flexibilidade, relações de apoio na equipe) e qualidade do serviço(segurança, oportunidade de melhoria). O outro seria a motivação que provém da realização de critérios que interesse ao trabalhador, o gosto do fazer, o ter prazer(se sentir útil à corporação, ser reconhecido, enfim , este prazer é subjetivo pois difere de pessoa para pessoa).

Robert Rosen, presidente da Healthy Companies, consultor cita a fábrica Fairmont citada na revista Fortune (revista americana que discorre sobre as melhores empresas do mundo) como um exemplo de contrato entre trabalhador e gestores. Ele relaciona os valores deste novo contrato (Rosen, 1992, p. 116-120) como:
• Compromisso com o desenvolvimento e o autoconhecimento,
• Crença na decência,
• Respeito pelas diferenças individuiais,
• Espírito de associação,
• Alta prioridade de saúde e bem-estar,
• Paixão pelos produtos e processos.

Rosen diz que “Organizações do futuro são redes de relações e as relações são o que une as pessoas. Nós estamos realmente operando comunidades humanas ou empresas humanas.” (em Makower, 1994, p. 170). Uma empresa mesmo sendo de pequeno porte pode criar o sentimento de família e inspirar os colaboradores á missão do seu trabalho. Desde que visualize com sendo uma corporação a qual motive pela qualidade de seu trabalho e pelo suporte que é dado a ele, não focando na busca da riqueza que está relacionada á depressão e á baixa autoestima.

A banalização do mal é uma das características marcantes do “admirável mundo novo” (Dejours, 1999a). O trabalhador nega e racionaliza os pensamentos e seus sentimentos e esta negação é uma ferramenta utilizada para dar leveza a dor extrema que está dentro de si, para suportar o universo que o cerca. Ele esconde e se esconde da patologia que o ronda, quando a doença é visível existe o medo do não saber por quanto tempo ficará indisponível para retornar ao trabalho, a exclusão,o que o apavora é o medo do retorno, o não saber o que acontecerá se sua vaga estará disponível. Em contra partida à esta patologia visível inicia o processo do adoecimento mental o sofrimento,o stress, a desolação, a tristeza,o abandono a depressão e a apatia.

A família, os amigos, os próprios colegas e os chefes contribuem como algozes na maioria das vezes tecendo comentários maldosos , as vezes em tom de brincadeiras mas que aos ouvidos de quem está como mero espectador e sem condições de barganha (isso em sua condição de pensamento, na maioria das vezes amparado pela submissão ás leis de mercado as quais não pode fazer nada) soa como real e massacrante. Perante à família o problema é ainda maior se ele for do sexo masculino, principalmente diante de uma estrutura que ainda coloca o homem como provedor , o esteio da casa. Se a patologia for visível ainda é suportável, mas se ela não for vista o estigmatiza de folgado, que não quer nada com nada, vagabundo e as constantes cobranças contribuem para o aumento do seu desestimulo e em contra partida o aumento seu adoecimento mental.

Vemos que na realidade isto se transforma em um circulo vicioso que só terá fim no momento em que houver uma interface entre a rede na qual engloba o trabalhador, a empresa e a família. O poder lidar com os sofrimentos e as adversidades. As patologias em decorrência da organização do trabalho as vezes encaminham o trabalhador a elaborar mecanismos de defesa, como a racionalização ,que minimiza o efeito do problema e que pode ser dividido com toda a equipe.

Não são raros o ataque contra si mesmo, através de tentativas de suicídio, é uma maneira de demonstrar a agressividade contra si e a instituição como causadora de sua desgraça. Se não consegue o seu fim que é a morte acaba cedendo á passividade e sendo cobrado por isto e o ciclo não se encerra.