segunda-feira, 5 de abril de 2010
SAÚDE DO TRABALHADOR: Depressão: causa da maioria dos afastamentos
Fonte: Jornal o Dia
Até 2020, doença deve saltar da 4ª para a 2ª posição no ranking da incapacidade para o trabalho, segundo a OMS
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que, até 2020, a depressão passará da 4ª para a 2ª colocada entre as principais causas de incapacidade para o trabalho em todo o mundo. Estima-se que 121 milhões de pessoas sofram com a depressão (17 milhões delas no Brasil). Além disso, 75% nunca receberam tratamento adequado. Pesquisa da Federação Mundial para Saúde Mental “Depressão, A Verdade Dolorosa” entrevistou adultos diagnosticados com a doença, médicos clínicos gerais e psiquiatras de cinco países, entre eles, o Brasil — os outros foram Canadá, México, Alemanha e França. Os dados revelam que 64% das pessoas deprimidas já tinham se afastado do trabalho por mais de 19 dias no ano. Além disso, 80% admitiram que, mesmo sem o afastamento, a produtividade cai até 26%.
Psiquiatra professor da Unifesp, Acioly Lacerda afirma que, em longo prazo, quadros de depressão não tratados podem levar ao afastamento, elevando o absenteísmo e culminar em demissão, já que a baixa produtividade e o desinteresse pela rotina podem afetar a avaliação da empresa sobre o funcionário.
“Por isso, é muito importante reconhecer os sintomas, buscar ajuda médica e seguir corretamente tratamento indicado pelo especialista”, completa.
O preço do afastamento costuma ser elevado: o funcionário pode ser visto com desconfiança e precisa de muito esforço para apagar a imagem de fragilidade, em um mundo do trabalho que requer, cada vez mais, agressividade, apontam os especialistas. Segundo o perito do INSS Luiz Fernando Moraya, há categorias que são mais afetadas. As condições de trabalho, quando há pressão e estresse, podem colaborar, mas há também a importância de outros fatores, como vida pessoal e até origem orgânica.
“Profissionais da área de segurança, motoristas de ônibus, médicos de hospital e peritos do INSS têm alto índice de incidência. Muitas vezes, a pessoa pode até não sofrer a pressão no ambiente de trabalho, mas ela a sente e, então, deprime”, explica o médico.
Ele relata um caso dramático que demonstra o efeito do ambiente de estresse e pressão. No Rio, uma perita do INSS pediu afastamento do trabalho e da agência. No posto da Marechal Floriano, no Centro, um segurado que alegava esquizofrenia fechou a porta da sala e afirmou que daria choques na médica. “Seguranças entraram e o retiraram, mas ele marcou nova perícia para esta semana. Chamamos a polícia e ele não apareceu”, exemplifica.
Bullying ataca no ambiente de trabalho
O bullying, que assola as crianças nas escolas, também acontece no ambiente de trabalho. Aparece sob a forma de pedidos de projetos ou relatórios em prazos impossíveis, remarcar reuniões em cima da hora, tarefas triviais para cargos de responsabilidade, “geladeira”, entre outros.
“A maior dificuldade é saber quando acontece de fato. A sutileza torna o assédio moral ainda mais perverso”, descreve Paulo Eduardo Vieira de Oliveira, juiz do trabalho e professor da Universidade de São Paulo.
COMO IDENTIFICAR SE VOCÊ ESTÁ DEPRIMIDO
SINTOMAS
Tristeza não deve ser confundida com depressão, que não dever ser confundida com fracasso. Para identificar um quadro depressivo, é preciso apresentar um conjunto de sintomas que se manifestam por um determinado período de tempo. A descrição a seguir, fornecida por profissionais da área de psiquiatria, é ilustrativa. Se identificar pelo menos cinco da lista, para ter a certeza do diagnóstico, é recomendável procurar um médico especialista, que é o psiquiatra.
MARQUE UM (OU MAIS) X
( ) Humor persistentemente triste, ansioso ou “vazio”.
( ) Dificuldade de sentir prazer em atividades antes prazerosas e ou de realizar as atividades cotidianas, como trabalhar.
( ) Irritabilidade desproporcional e generalizada.
( ) Sentimento de culpa, insegurança, falta de vontade e de iniciativa.
( ) Diminuição de auto-estima e da autoconfiança.
( ) Falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo.
( ) Dificuldade de se concentrar, recordar, tomar decisões.
( ) Avaliações negativas de si próprio, do mundo e do futuro.
( ) Alterações no sono, que pode ser insônia ou uma sonolência excessiva.
( ) Aumento ou diminuição do apetite, diminuição da libido.
( ) Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.
( ) Baixa energia, alterações no sono, dores inexplicáveis pelo corpo (sem causa clínica definida), dor de cabeça.
( ) Dor no estômago, alterações no apetite, alterações gastrointestinais.
( ) Problemas psicomotores.
TRATAMENTO
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o tratamento a princípio é feito de forma ambulatorial, fora de hospital, em serviços públicos ou em consultórios particulares. Em alguns casos é possível tratar só com psicoterapia, mas na maioria deles aconselha-se o uso combinado de psicoterapia e medicamentos. O sucesso do tratamento vai depender, acima de tudo, da adesão do paciente. Em alguns casos, são recomendadas atividades físicas.
PAPEL DA FAMÍLIA
Envolve compreensão, paciência, afeição e encorajamento. O parente deve estimular a pessoa deprimida a conversar, ouvir com atenção e não desqualificar os sentimentos que são expressos, mas apontar a realidade e dar esperanças.
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