Fonte:Folha.com
Há quatro meses, Daniel Meana, 33, levou um ultimato dos donos da empresa que gerencia: ou parava de usar drogas ou seria demitido.
Ele prometeu deixar o vício. A doença, no entanto, foi mais forte, desabafa Meana.
Gastou R$ 900 de um adiantamento em menos de um dia -saiu da companhia às 14h de sábado e voltou para casa às 2h de domingo. "Fiquei bebendo cerveja e cheirando cocaína", lembra.
A perda de controle gerada pela experiência e uma briga o fizeram parar. O profissional decidiu buscar ajuda em clínica de reabilitação.
Depois de um mês internado, voltou à empresa e teve seu cargo de volta. O rendimento profissional melhorou tanto que recebeu aumento.
Histórias como a do gerente têm se repetido no Brasil. No primeiro semestre de 2011, 21.273 trabalhadores foram afastados de seus postos para tratar transtornos causados pelo uso de substâncias psicoativas -que agem no sistema nervoso central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição.
ALTA DE 22%
O número representa crescimento de 22% em relação ao mesmo período de 2010 (17.454). São licenças concedidas pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) por problemas causados por uso de drogas ilícitas como cocaína e abuso de remédios sedativos e estimulantes, como antidepressivos e ansiolíticos (para controle da ansiedade).
Dos executivos, 15% usam substâncias psicoativas, segundo pesquisa do HCor (Hospital do Coração) com 829 pessoas de abril de 2009 a março de 2010, obtida com exclusividade pela Folha.
Competitividade, pressão por resultados e solidão são uma combinação explosiva entre executivos. Com receio de perder o posto e impelidos a trazer retorno para a companhia, muitos escondem o uso de drogas -sejam ansiolíticos sejam drogas ilícitas.
"O executivo é muito solitário, e o ambiente é altamente competitivo. A demonstração de fraquezas é duramente tratada", afirma Antonio Carlos Worms Till, diretor da clínica Vita Check-Up.
A imagem que as corporações têm dos profissionais que compõem o alto escalão é a de heróis. "Se ele não for o super-homem, será preterido em relação a outros e malvisto politicamente", frisa.
O cenário torna a identificação de executivos para tratamento e auxílio dentro das companhias uma tarefa hercúlea. A dificuldade é sentida até mesmo em hospitais.
As psicólogas Mariana Guarize e Janaína Xavier Santos, que coletaram dados sobre uso de remédios controlados e drogas ilícitas para pesquisa no HCor, contam que, frequentemente, o profissional só assume o uso de psicotrópicos em entrevista, não em formulários.
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